terça-feira, 2 de abril de 2024

ATÉ NAS CABEÇAS DE PRÍNCIPES E REIS,

À PARTIR DO PECADO ORIGINAL,

SOBREVIVEM OS SAPOS. 



O PECADO ORIGINAL

TÉRCIO STHAL


Ouvi falar do pecado original,

da ciência do bem e do mal

e da cobra que enche o papo

com o sapo que anda no salto,

estica a língua e engole a mosca

que não voa ou que voa baixo,

por medo ou preguiça de voar alto.


E dizem que, até hoje em dia,

engolir sapo ou comer mosca

virou rotina de cena de teatro

e poema, à partir da poesia.



O MENDIGO

TÉRCIO STHAL


Era só um sapo,

nem espelho tinha,

mas virar príncipe

era o seu desejo...


Então o seu papo,

quando ia e vinha,

era sempre o mesmo:

- Me dá um beijo!

Me dá um beijo!



O REJEITADO

TÉRCIO STHAL


O sapo reclama que

a mosca voa e

não se deixa engolir...


A mosca, por sua vez,

reclama que anda, talvez,

engolindo sapo demais...


Assim, a plenitude do amor

entre o sapo e a mosca 

fica reservada para o devir...


Ou na fila de espera

no expediente da Secretaria

da beira do Cais.



O MEQUETREFE

TÉRCIO STHAL


Quando o sapo mequetrefe empapuça:

- Agacha-se e quieto evacua.


Quando não evacua o sapo mequetrefe:

- Reverbera e perde o enfoque.


Se a claque e a plebe descobrem o truque:

- Ele beberica Soda Cáustica.


Se a claque e a plebe sabem do trambique:

- Ele leva o choque, mas truca.