À PARTIR DO PECADO ORIGINAL,
SOBREVIVEM OS SAPOS.
O PECADO ORIGINAL
TÉRCIO STHAL
Ouvi falar do pecado original,
da ciência do bem e do mal
e da cobra que enche o papo
com o sapo que anda no salto,
estica a língua e engole a mosca
que não voa ou que voa baixo,
por medo ou preguiça de voar alto.
E dizem que, até hoje em dia,
engolir sapo ou comer mosca
virou rotina de cena de teatro
e poema, à partir da poesia.
O MENDIGO
TÉRCIO STHAL
Era só um sapo,
nem espelho tinha,
mas virar príncipe
era o seu desejo...
Então o seu papo,
quando ia e vinha,
era sempre o mesmo:
- Me dá um beijo!
Me dá um beijo!
O REJEITADO
TÉRCIO STHAL
O sapo reclama que
a mosca voa e
não se deixa engolir...
A mosca, por sua vez,
reclama que anda, talvez,
engolindo sapo demais...
Assim, a plenitude do amor
entre o sapo e a mosca
fica reservada para o devir...
Ou na fila de espera
no expediente da Secretaria
da beira do Cais.
O MEQUETREFE
TÉRCIO STHAL
Quando o sapo mequetrefe empapuça:
- Agacha-se e quieto evacua.
Quando não evacua o sapo mequetrefe:
- Reverbera e perde o enfoque.
Se a claque e a plebe descobrem o truque:
- Ele beberica Soda Cáustica.
Se a claque e a plebe sabem do trambique:
- Ele leva o choque, mas truca.